quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Eu não gosto quando você vai embora

Eu não gosto quando você vai embora
Fica um azedo no ar, uma saudade
Um frio de alma triste
Uma solidão convexa a empoeirar tudo
E um olhar distante nas coisas...

Eu não gosto quando você vai embora
Prefiro-te aqui, ao meu lado
Nos beijos demorados, nos sonhos difusos
Degustando um silêncio de olhos
Uma risada com gosto de tempo
Uns segundos que duram horas...

Eu não gosto quando você vai embora
Não gosto mesmo! Fico fremente
Feito criança gripada, doente
Esperando que se passem as horas
Para ter de novo sentido em meus caminhos.
Até a minha sombra me abandona nesses dias
O sol brilha pálido, a piscar os olhos te procurando...
E você vai levando o perfume das flores
Que tu trazes entranhado em teus poros
Como se fosses tu Margarida, Violeta, Rosa ou Jasmin...

Eu não gosto quando você vai embora
Mas não posso querer controlar os teus caminhos
Tu vens e vais ligeira, pés furtivos
Um Soltício de Verão nos meus dias cinzentos
Eu atento, aguardo dobrar a esquina
O próximo dia quente, o céu azul de ti.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

NóS

Nosso amor foi um cadarço
E meu corpo foi o seu tênis
Sob seus pés, pisoteado
Peito nu, coração aberto
E você foi o nó,
Prendendo meu peito.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Xícara Preta

Essa xícara preta está cheia
Sem chá, sem café, sem leite, sem água,
Cheia de tudo, menos de vida...
Perecível, desfalece e
Às vezes parece porcelana,
Xícara mundana, quase gente!
Vive na lama, longe da prataria da casa.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Anjos negros

Anjos negros penderam do céu
Há tanto que deles não há pinturas
Nossos anjos negros, periféricos
Caem ainda hoje em rasas sepulturas.

Na terra santa, queimada e negra
Nasceram apóstolos, prostitutas e santos
Todos loiros, todos brancos
Na Bíblia europeia essa é a regra.

Agora, nos dizem descendentes de Cam
Amaldiçoados, malditos e merecedores
Dos augúrios de um branco Leviatã
Da senzala, da escravidão e dos anos de dores.

Como posso eu, um descendente Banto,
Seguir teus credos, tuas ordens e cantos,
Amar teus santos, beijar teu manto,
Se você queima e apedreja o meu terreiro?

A ti profano, a mim sagrado
Na contradição de um santo de injustiças
Rezar o pai nosso que nos deixou desamparado
Em troca dos dízimos e da cobiça.

Minha cultura ancestral, minha religião,
Minha pele e meu crespo cabelo
Aos teus olhos azuis, um pesadelo
Aos meus, uma forma de não viver em vão.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Volátil, Etérea!

Volátil, etérea...oh, flor cigana!
Pelas terras a caminhar nesses jardins
Sidérea flor sem pétalas
Que outros corações você engana?




quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Que alvorada! Que penumbra!

Que alvorada! Que penumbra!
Esse desforro da minha luz querida
Fanal luzente de mim esvaída
Dor perene transfigurada em sombra!

Que alvorada! E que sorte tive!
Ter sido escolhido para sofrer na vida...
Sofrer de amor e parecer humano
Ver minha angústia assim repetida!

Que penumbra paira! Que palor!
Sobre mim se apaga o céu da luz descida
E tombado de joelhos foge-me o calor
E me adentra, enfim, a prometida!

Derradeira volúpia esse amanhã
Um porvir de alento e escuridão
Ter meu fim na fulgura de um afã
Rebentar num flui arrebol de solidão.






quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Um dia mudaram tudo

Um dia,
Mudaram as minhas coisas de lugar,
Não me perguntaram nada e eu me calei.
No outro, vi minhas coisas sendo levadas,
Minha vida ficando vaga, e ainda assim,
Eu me calei.
Em seguida,
Mudaram meu nome
Mudaram minha casa
Mudaram minhas refeições
E eu esperei.
Agora ou mudo a mim
Ou permaneço mudo.


terça-feira, 6 de outubro de 2015

Amanhã, eu não sei não

Dá-me o teu sorriso
O teu melhor
E faça um dengo frouxo,
Que esse corpo
Anseia há tempos
Tê-lo em si de novo.
Olha o céu azul
E a terra seca
Foi época de colheita
Agora cubra a pele
Nua, num reverso
Do verso do corpo
Pede em silêncio
Pra desfazer o pedido
E dormir de peito partido
Um a um da camisa de botão.
Sou tua, só tua
Ilusão, doce ilusão
Sou minha antes e sempre
Hoje me faço, sua
Amanhã, eu não sei não.


segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Queria não sofrer no amor

Queria não sofrer de amor, e é verdade.
Queria ser um desses velhinhos da praça
Passeando com suas esposas, trinta anos de casados...
Queria.
O som das árvores inspira poesia
A rua colorida, o asfalto ofegante no calor
A música que transcende as casas,
Os artistas que me encantam...
Tudo é inspiração, até a morte,
A religião, a cultura, a natureza, enfim,
Os sofrimentos...
Eu me inspiro com a dor da carne
Com o sentimento mais profundo do homem
O pior e o melhor amigo: o amor.
Queria não sofrer no amor...
Queria não sofrer no amor...
Queria não sofrer no amor...
Mas no final, nem quero mais amar.

Em meu choro a gratidão

Você me olha por detrás do espelho
Se faz perguntas
Mas não há ninguém a sua frente.
Não há respostas ou saídas
É como um pano muito desgastado
Que a costura já não resolve.
Não é seu rosto, sua energia...
Onde estamos, afinal?
Essa é a última estação? Mas nem partimos...
Minha viagem frente a mim
Uso meu corpo para evadir e mim
Penetro-me com os olhos dos outros
E não me vejo; nunca me veria.
É preciso um amor que se vai de madrugada
E vinte e quatro horas depois
Já está em outros braços
É preciso morrer para viver para sempre
A vida eterna mora além do corpo:
Mora na alma.
Minha alma anseia vida, anseia o verde
Anseia Oxossi, Oxum, Iemanjá...
Minha alma é de mim o que me lembro
Mas deveria ser o que se é.
Sou cacos, centelhas refratadas, dispersas,
Sou o que ninguém nasceu para ser
Mas não sou isso para sempre.
Eu a vejo, finalmente,
Com os olhos que me foram furtados no seu encanto
Como eu deveria sempre tê-la visto.
Eles dirão-me que é para esquecer-te,
Impossível!
Não posso esquecer quem me fez lembrar de mim!

É dor que sinto e não tem cura

É dor que sinto e não tem cura
Essa distância que dilacera
Longe desse corpo tudo é silêncio
E a morte faz-se flor envolta em candura.

E dessa flor quero a coroa fúnebre
Para o meu jardim de caos adornar
E na discrasia desta noite lúgubre
Quero a paz, a vida e a morte em mim.

Queria um banho nessas águas claras
Que escorrem do meu rosto negro
Queria o castelo construído em teu nome
E continuar feliz: esse é o meu segredo!

Jogue aos porcos as tuas migalhas
Esse teu sentimento mesquinho de felicidade
Estar sozinho com um sorriso pungente
Bebendo e festejando sobre meu cadáver

Escondo tudo, mas não quem sou
Pena Branca, cabelos vermelhos!
Perdi teus olhos dos meus, que vacilo!
Nosso navio: quando afundou?

Ter coragem para ser sorriso em ti
E ser em mim o que o passado me furtou
Ter te amado tanto, te querer e ser o algoz
De um mundo que a minha mão moldou

Nessa varanda da vida que é a tua face
Nasço e morro em teu horizonte,
Todos os dias, me prostro em frente a tua fronte
E te ilumino com a luz que nem há em mim.












sábado, 3 de outubro de 2015

Humano impuro

Oh, minha querida,
Como és doce em teu toque!
Como és bela em tua idiossincrasia!
Tudo em você refrata
A luz divina que em teu peito emana
E na minha estupidez,
O sonhos dos tolos tive:
Amar um anjo vivendo no inferno!

Oh, que tolo sou e fui!
Como pude acreditar-me feliz
Ao lado de quem nasceu
Em uma era distante; já vivida
Semeia em si as germinadas
Sementes de frutos bons.

Mas eu, um pobre diabo
Qui-la minha, como se pudesse
O céu descer à Terra
Atendendo às minhas preces
Mas Deus deve estar ocupado
Com os mortos, pois eu que vivo,
Sangro a tristeza em minhas veias
Transpiro o desejo humano impuro.


Paixão digital

Paixão em sinal Digital
Por quem de mim,
Em tubo catódico,
Não entende o chiar
De um peito em sintonização.