segunda-feira, 10 de julho de 2017

Carnaval

Batuque: columbinas, concubinas e Pierrôs
É folia nesta terra de meu Deus!
Foliões fardados organizam a algazarra
Vão no abre-alas os ditadores da alegria!

A bandinha do Seu Marcial começou
Cassetetes batucam na minha caixa torácica
Sempre é carnaval fora de época.

Na primeira batida,
Mulheres para o lado, homens ao chão
Parado!, alguém gritou, ladrão!
Minha fantasia é perfeita, que disfarce!
Todos se confundem, me prendem, me batem!
Minhas colegas riem em profusão
Foram chamada de puta! Quanta animação!

Vai passando o trio elétrico, todos a bordo!
Luzes vermelhas e azuis a iluminar a rua
Os pândegos dormindo ao som do concerto
Como podem? Esses jovens não tem jeito!
Brincam no instrumento os tocadores de rabecão
Levantando até defunto! Que emoção!
Todos felizes, chorando de ri
Como é belo o carnaval onde eu nasci!





sexta-feira, 7 de julho de 2017

Estar só

Estar só, existir sozinho
Conheço os rumos e não importam as estradas
Ir ou vir é indiferente:
Sempre acabo no mesmo lugar.

No cerne da cidade, ruas vazias
Um olhar oblíquo lançado sobre mim
Passante como nódoa no Sol...
Desbravei um mundo, conheci as vilas
Mas dentro de mim permanece o vazio:
Inda é real a solidão.

Som mecânico no ouvido para acordar.
Acordo programado para a infelicidade
Toda a certeza que eu carrego comigo
Some na primeira esquina
No primeiro gole de café
Na primeira risada matinal, e vai sumindo
Como o Sol que se vai no crepúsculo
Como Vênus se apagando no arrebol.

Fiz de mim minha companhia
E, da solidão que me pertence, fi-la acessório
Boto-a no bolso e saio pela rua
Dando sorrisos e apertos de mãos
Desejando ter o que ofereço
Implorando por dentro para deixar de ser eu.


quinta-feira, 6 de julho de 2017

Homem de doze anos


Ando faminto e mal dormido 
Com fome de tudo que sacia a alma
Com a esperança depositada em copos e pratos vazios.

Não sou só nos becos do mundo.
As paredes há tempos testemunham meus gemidos
Indistinguíveis entre o prazer e a dor do abandono.
Venho há anos escondendo meus segredos
Rindo entre fumaças e pessoas tóxicas
Enveredando-me nos corpos sem calor
Fugindo dos olhos da pessoa que devo ser.
E devo a mim mesmo as minhas mazelas
Os choros engolidos nas madrugadas
A turbulência que meus pensamentos têm me causado. 
Desde a cama entre cinco
Tenho dividido minha história e minha alma
Demais, e em tantos pedaços
Que saí para catar cada um deles e ainda não voltei pra casa.

Tenho bons vizinhos, os quais nunca vi.
Sento-me na calçada sob o sol para ouvir os ruídos da rua
É quase tarde quando o Sol bate cartão no horizonte
Sua jornada não inclui levar-me consigo, porém.
Fujo do frio que me persegue em meu edredom
Mas não há lugar para ir quando é a saudade que me visita.
Ademais, são as pessoas distantes que me desconfortam
As que não sabe estar sem serem falta
As que são vazio onipresentemente.

Olhos coloridos em meu caminho
Tive medo de cair de cama um dia e estar sozinho
Entre livros de Física Quântica e Astronomia...
Quanto as poesias concretas e o mundo líquido de Bauman,
Meu corpo diz que é preciso ter força para não se curvar. 
Tenho enxergado o mundo com o corpo prostrado 
Pedindo silêncio aos sons da cidade
Enquanto abafo gritos desesperados nas minhas víceras.
Ainda faz calor nas ruas em que nasci
E eu só refrescava meu ventre nas águas de minha mãe.
Hoje, longe dela, e de quem nessa terra me fez dormir tantas vezes
Olho-me no espelho do passado
E vejo passos firmes e retos tornarem-se vestígios, leves pegadas.

Não tenho mais catorze anos há catorze anos
Deixei minha idade para trás, trouxe comigo a juventude
E livrar-me dela é como livrar-me de mim.
Descubro-me na risada que dou e nos olhares carinhosos que recebo
São eles minha força de vontade, 
O sonho bom que tenho e que me faz acordar
Para reviver entre os homens maus, itens caros nas vitrines
E a eterna saudade que fez cabana do meu interior.

A casa dividida entre sete, hoje, parece imensa.
A casa dividida entre nove outrora fez ser quem sou.
Daquela casa que nos era o maior orgulho
Fiz minhas melhores lembranças e a certeza de descanso
Dores e desilusões, das quais dou risadas
Enquanto caminho por ruas ainda esburacadas
No coração financeiro do país.
Longe, bem longe de lá eu vim buscar o meu destino
Mas quem sai de casa não retorna, se um dia disse adeus...

domingo, 2 de julho de 2017

Escadas e abismos

Não sei amar sem sentir dor
É paixão - mas não corrijamos!
Quem pode corrigir o amor?
Senão quem nós amamos?

São flores de inverno - olhai.
As ruas desabrocham em cores
É fria a madrugada aqui fora
Ruas cantando, cervejas nas casas
E uma liberdade quase sentida.

Tudo que tenho está sobre mim
Mora no céu deixando nódoas nos olhos
E quando em meu corpo tropeça, me aquece...
Parece sua pele na minha, ebulindo
Parece uma prece que faço em silêncio...

Resguardo pensamentos bondosos
Para tê-los todos em sua presença
Guardando bilhetes e momentos
Mensagens, frases, sentenças
Em um caderno antigo e rasurado.

Eu rego minha insanidade e meço
Dia a dia o quanto eu enlouqueço
Perdido em mim nas tardes vazias...
Meu sentir é erva delicada
Tem o aroma da amada em suas folhas.

Trazer de ti o teu melhor
Colocar na minha água, em tudo o que bebo
Saber das cores dos seus olhos os nomes
E ter em mim os pelos da sua felina
Estou perdido: não há escadas no abismo do amor.